1  Introdução

A Supressão da Vegetação Nativa () é motivo de grande preocupação devido ao seu impacto sobre o meio ambiente e o bem-estar humano. Existe um interesse internacional na proteção de formações de vegetação natural, a fim de evitar efeitos negativos como emissões de gases de efeito estufa e a perda de biodiversidade. A compreensão das causas e das consequências deste fenômeno é crucial para orientar políticas destinadas a evitar uma maior SVN e a atenuar seus impactos negativos. No entanto, esta é uma tarefa difícil, uma vez que os fatores envolvidos neste fenômeno são diversos, heterogêneos e podem até ser contraditórios. Alguns dos fatores que já foram apontados como causas da SVN são: flutuações econômicas (Hargrave e Kis-Katos 2012), políticas de conservação (Pfaff et al. 2015), distribuição da população (Jusys 2016), posse da terra (Cattaneo 2001) e produção pecuária e agrícola (Bowman 2016). Por outro lado, já foi apontado que a SVN pode ter impacto na saúde humana (Santos e Almeida 2018), no regime climático (Silva et al. 2023), na hidrologia regional (Cavalcante et al. 2019), nas propriedades do solo (Dias et al. 2022) e na biodiversidade (Gestich et al. 2021).

Quando observamos esses fatores citados, percebemos a complexidade de processos que ocorrem em conjunto da , sendo que esses processos podem ser analisados sob a perspectiva de diferentes disciplinas, como a Antropologia, Sociologia, Geografia, Economia, e Ecologia. Portanto, a adoção de uma abordagem interdisciplinar é essencial para a descrição da SVN de uma maneira ampla, que tenha a capacidade de descrever esse fenômeno através de perspectivas diversas (Turner et al. 2020). Porém, desenvolver pesquisas interdisciplinares é um desafio, sendo que não há consenso sobre a própria concepção do que se define como interdisciplinar (Zscheischler e Rogga 2015). Uma das possibilidades de se atingir esse patamar é de adotar um paradigma filosófico semelhante entre diferentes disciplinas (Danermark 2002), facilitando o diálogo entre conhecimentos gerados por diferentes métodos.

A partir da problemática exposta acima, o presente trabalho tem como objetivo central, desenvolver e aplicar um Modelo Teórico Geral da , que seja capaz de ser utilizado em análises por diferentes disciplinas. O desenvolvimento do modelo teórico é feito a partir de um paradigma filosófico conhecido como Realismo Crítico, que define a perspectiva ontológica e epistemológica adotada na pesquisa. A aplicação do modelo teórico é feita a partir do emprego da Teoria Geral dos Campos de Bourdieu, como uma perspectiva da Sociologia, e de modelos estatísticos espaciais, como uma perspectiva da Geografia. O contexto temporal e espacial da aplicação do modelo teórico se dá no passado recente dos biomas Amazônia e Cerrado.

A hipótese central é de que é possível e frutífero utilizar um modelo teórico para descrever o processo da em um recorte espacial e temporal específico, através de métodos de diferentes disciplinas.

O método proposto é inovador no sentido de empregar um modelo teórico como uma base comum, para a condução e interpretação dos resultados das análises estatística e sociológica, apresentando uma nova maneira de conduzir pesquisas interdisciplinares no tema da . A contribuição do modelo teórico é de fornecer uma descrição detalhada do mecanismo causal da SVN, e de sua manifestação empírica. A partir disso, é fornecida uma ferramenta de interpretação para os resultados das análises estatística e sociológica, em que os resultados dessas anáises são confrontados pela descrição fornecida pelo modelo teórico.

Referências

Bowman, Maria S. 2016. «Impact of foot-and-mouth disease status on deforestation in Brazilian Amazon and cerrado municipalities between 2000 and 2010». Journal of Environmental Economics and Management 75 (janeiro). https://doi.org/10.1016/j.jeem.2015.08.003.
Cattaneo, Andrea. 2001. «Deforestation in the Brazilian Amazon: Comparing the Impacts of Macroeconomic Shocks, Land Tenure, and Technological Change». Land Economics 77 (2). https://doi.org/10.2307/3147091.
Cavalcante, R. B. L., P. R. M. Pontes, P. W. M. Souza-Filho, e E. B. Souza. 2019. «Opposite Effects of Climate and Land Use Changes on the Annual Water Balance in the Amazon Arc of Deforestation». Water Resources Research 55 (4). https://doi.org/10.1029/2019wr025083.
Danermark, Berth. 2002. «Interdisciplinary Research and Critical Realism The Example of Disability Research». Alethia 5 (1): 56–64. https://doi.org/10.1558/aleth.v5i1.56.
Dias, Fabiane Pereira Machado, Wilson Mozena Leandro, Paulo Marçal Fernandes, e Francisco Alisson da Silva Xavier. 2022. «Impact of short-term land-use change on soil organic carbon dynamics in transitional agro-ecosystems: a case study in the Brazilian Cerrado». Carbon Management 13 (1). https://doi.org/10.1080/17583004.2022.2074313.
Gestich, Carla C., Víctor Arroyo-Rodríguez, Bruno H. Saranholi, Rogério G. T. da Cunha, Eleonore Z. F. Setz, e Milton C. Ribeiro. 2021. «Forest loss and fragmentation can promote the crowding effect in a forest-specialist primate». Landscape Ecology 37 (1). https://doi.org/10.1007/s10980-021-01336-1.
Hargrave, Jorge, e Krisztina Kis-Katos. 2012. «Economic Causes of Deforestation in the Brazilian Amazon: A Panel Data Analysis for the 2000s». Environmental and Resource Economics 54 (4). https://doi.org/10.1007/s10640-012-9610-2.
Jusys, Tomas. 2016. «Fundamental causes and spatial heterogeneity of deforestation in Legal Amazon». Applied Geography 75 (outubro). https://doi.org/10.1016/j.apgeog.2016.08.015.
Pfaff, Alexander, Juan Robalino, Diego Herrera, e Catalina Sandoval. 2015. «Protected Areas’ Impacts on Brazilian Amazon Deforestation: Examining Conservation – Development Interactions to Inform Planning». Editado por Kamal Bawa. PLOS ONE 10 (7): e0129460. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0129460.
Santos, Augusto Seabra, e Alexandre N. Almeida. 2018. «The Impact of Deforestation on Malaria Infections in the Brazilian Amazon». Ecological Economics 154 (dezembro). https://doi.org/10.1016/j.ecolecon.2018.08.005.
Silva, Carlos Fabricio Assunção da, Mauricio Oliveira de Andrade, Alex Mota dos Santos, e Silas Nogueira de Melo. 2023. «Road network and deforestation of indigenous lands in the Brazilian Amazon». Transportation Research Part D: Transport and Environment 119: 103735. https://doi.org/10.1016/j.trd.2023.103735.
Turner, BL, Patrick Meyfroidt, Tobias Kuemmerle, Daniel Müller, e Rinku Roy Chowdhury. 2020. «Framing the search for a theory of land use». Journal of Land Use Science 15 (4): 489–508. https://doi.org/10.1080/1747423x.2020.1811792.
Zscheischler, Jana, e Sebastian Rogga. 2015. «Transdisciplinarity in land use science – A review of concepts, empirical findings and current practices». Futures 65: 28–44. https://doi.org/10.1016/j.futures.2014.11.005.